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Cid aponta Mário Fernandes como um dos principais articuladores da trama golpista

Ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro detalha plano de ruptura institucional e atentados contra autoridades em delação premiada.
Mário Fernandes, um dos indiciados pela PGR na trama golpista
De acordo com Mauro Cid, Fernandes pressionava Bolsonaro a atentar contra a democracia. (Foto: Marcelo Camargo)

O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, afirmou, em delação premiada, que o general da reserva Mário Fernandes foi um dos principais articuladores da tentativa de golpe de Estado entre a derrota eleitoral de Bolsonaro, em 2022, e a posse de Luiz Inácio Lula da Silva, em janeiro de 2023. O depoimento faz parte do material de áudio e vídeo tornado público nesta quinta-feira (20) por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Pressão sobre Bolsonaro

Segundo Cid, Mário Fernandes pressionava insistentemente para que Bolsonaro tomasse alguma medida de intervenção contra a democracia.

“Ele era um general que estava muito ostensivo, inclusive nas redes sociais. Estava com os manifestantes o tempo todo, pressionando os generais para que tomassem alguma atitude. Ele estava bem raivoso. Era o que mais impulsionava o presidente a fazer alguma coisa”, declarou Cid.

Fernandes, que foi comandante das forças de elite do Exército, teria sido responsável por coordenar um plano de atentado contra autoridades públicas, incluindo o presidente Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes. O plano foi identificado pela Polícia Federal (PF) e recebeu o nome de “Punhal Verde e Amarelo”.

O general foi preso em novembro de 2023 por envolvimento na trama e teria atuado como elo entre manifestantes acampados em quartéis pelo país, o governo federal e militares de diferentes patentes.

Braga Netto e os atentados planejados

Cid também mencionou o envolvimento do general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro em 2022. Segundo o depoimento, Braga Netto mantinha contato diário com Bolsonaro após a derrota eleitoral e teve papel fundamental na coordenação da articulação golpista.

“Braga Netto conversava todo dia com Bolsonaro, de manhã e no final da tarde, durante o período em que Bolsonaro ficou recluso no Alvorada”, afirmou Cid.

De acordo com a Procuradoria-Geral da República (PGR), o general participou de reuniões para organizar ações violentas contra autoridades, incluindo uma reunião em 12 de novembro de 2022, onde foram discutidos os atentados contra Lula, Alckmin e Moraes.

R$ 100 mil em sacola de vinho para financiar a conspiração

Cid também revelou que o coronel Rafael Oliveira pediu que ele buscasse recursos para viabilizar as ações golpistas. Após tentativa frustrada de conseguir dinheiro com o Partido Liberal (PL), Cid recebeu, no início de dezembro de 2022, R$ 100 mil em espécie, entregues pelo próprio Braga Netto no Palácio do Planalto. O ex-ministro teria dito que o dinheiro veio do “pessoal do agronegócio”.

O papel do general Luiz Eduardo Ramos

Apesar de Fernandes ocupar um cargo de destaque na Secretaria-Geral da Presidência da República, comandada na época pelo general Luiz Eduardo Ramos, Cid disse que Ramos foi afastado das articulações golpistas por Bolsonaro.

“O general Ramos foi completamente alijado do processo. Ele teve problemas com o presidente. Ele achava que seria nomeado ministro da Defesa, mas Bolsonaro o escanteou. No final do ano, ele nem apareceu”, afirmou o delator.

Dessa forma, Luiz Eduardo Ramos não está na lista de denunciados pela PGR.

Denúncia contra Bolsonaro e aliados

A delação de Mauro Cid serviu de base para a denúncia apresentada pela PGR, que acusa Jair Bolsonaro, Cid e outras 32 pessoas de crimes como tentativa de golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito.

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