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Rodrigo Paz vence eleições na Bolívia e encerra era do MAS

Senador de centro-direita obtém 54,5% dos votos e marca fim de quase duas décadas de governos do Movimento ao Socialismo.
Rodrigo Paz Bolívia
Paz promete reformas graduais e abertura ao mundo. (Foto: Adriano Machado)

O senador de centro-direita Rodrigo Paz venceu o segundo turno das eleições na Bolívia neste domingo (19), conquistando 54,5% dos votos e derrotando o conservador Jorge “Tuto” Quiroga, que obteve 45,5%. Nesse sentido, a vitória marca o fim de quase duas décadas de governos do Movimento ao Socialismo (MAS), que dominou a política boliviana desde 2006. A posse do novo presidente está marcada para 8 de novembro.

Desafios no Congresso

Apesar da vitória expressiva, o Partido Democrata Cristão (PDC) não conseguiu obter maioria legislativa, o que obrigará Rodrigo Paz a firmar alianças para governar. Por isso, o novo presidente precisará de habilidade política para aprovar reformas e evitar impasses no Congresso.

“Precisamos abrir a Bolívia para o mundo“, declarou Paz durante seu discurso de vitória em La Paz, após Quiroga rapidamente admitir a derrota. Além disso, o novo presidente prometeu manter programas sociais e promover o crescimento do setor privado, buscando equilibrar demandas de diferentes setores da sociedade.

Trajetória política e legado familiar

Rodrigo Paz Pereira nasceu em 1967 na cidade espanhola de Santiago de Compostela, quando sua família estava exilada durante as ditaduras militares na Bolívia. Ele é filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora (1989-1993), que governou sob os auspícios do ditador Hugo Banzer após o chamado “Acordo Patriótico”.

Em 2002, Rodrigo Paz ingressou no Congresso como representante do departamento de Tarija. Entre 2010 e 2020, atuou como vereador e depois prefeito da cidade. Nos últimos cinco anos, exerceu o cargo de senador nacional pela aliança Comunidade Cidadã, liderada pelo ex-presidente Carlos Mesa.

Plataforma moderada e reformas graduais

A plataforma aparentemente moderada de Paz, que promete manter programas sociais e promover o crescimento do setor privado, repercutiu entre eleitores de esquerda desiludidos com o MAS, fundado por Evo Morales, mas cautelosos com as medidas de austeridade de Quiroga.

Ambos os candidatos fizeram campanha com base na reversão de elementos do modelo estatal da era do MAS, mas divergiram quanto à natureza drástica das medidas. Paz defendeu uma reforma gradual, incluindo incentivos fiscais para pequenas empresas e autonomia fiscal regional, enquanto Quiroga propôs cortes drásticos e um resgate do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Relações internacionais e acordos econômicos

Assim como seu oponente, Paz prometeu melhorar as relações diplomáticas com países ocidentais, incluindo os Estados Unidos, após anos de alinhamento da Bolívia com a Rússia e a China. No final de setembro, ele revelou planos para um acordo de cooperação econômica de US$ 1,5 bilhão com autoridades dos EUA para garantir o fornecimento de combustível.

Apoio popular e desafios à frente

O apoio eleitoral a Paz no primeiro turno foi impulsionado por seu companheiro de chapa, Edman Lara, um ex-policial conhecido por seus vídeos virais no TikTok denunciando a corrupção. Lara foi dispensado da Polícia Nacional em 2024 devido a um processo disciplinar, mas seu apelo populista ajudou Paz a se conectar com eleitores mais jovens e da classe trabalhadora.

O principal sindicato da Bolívia, a Central de Trabalhadores da Bolívia (COB), alertou que se oporia a qualquer ameaça aos ganhos sociais e econômicos que obteve. Desse modo, o novo governo precisará de habilidade política para evitar o espectro de protestos de rua.

Por fim, os movimentos sociais e indígenas do país se preparam para iniciar uma nova etapa de resistência em defesa das conquistas sociais e da soberania nacional.

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