Lessa diz ter sido alertado sobre operação policial antes de prisão pelo assassinato de Marielle

Ex-policial detalha em depoimento no STF como recebeu informações antecipadas sobre a operação e o planejamento do crime.

Da Redação
29/08/24 • 13h20

Ronnie Lessa é o réu confesso do assassinato da vereadora Marielle Franco em 2018. (Foto: Lucas Landau)

O ex-policial militar Ronnie Lessa, réu confesso do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, confirmou nesta quarta-feira (28) que foi avisado antecipadamente sobre a operação da Polícia Civil do Rio de Janeiro que resultou em sua prisão em março de 2019, um ano após o crime.

Em depoimento virtual na ação penal em curso no Supremo Tribunal Federal (STF), Lessa relatou que, na noite anterior à sua prisão, recebeu uma mensagem de WhatsApp de um homem conhecido como Jomarzinho, filho de um policial federal aposentado, alertando-o sobre a operação. “A mensagem dizia: vai ter operação para prender os envolvidos no caso Marielle”, revelou o ex-policial. Apesar do aviso, Lessa foi detido quando se preparava para sair de sua casa na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, após os policiais civis anteciparem a operação.

Durante o depoimento, Lessa também afirmou que o assassinato da vereadora foi planejado para evitar que fosse caracterizado como um crime político, o que levaria a Polícia Federal a assumir as investigações. Segundo ele, o plano era que a investigação permanecesse sob a responsabilidade da Polícia Civil do Rio de Janeiro, então chefiada por Rivaldo Barbosa, também réu no processo.

Lessa revelou ainda que monitorou o ex-marido de Marielle para tentar identificar oportunidades para realizar o crime, mas mudou o foco para a Casa das Pretas, na Lapa, onde a vereadora foi morta, após descobrir que ela não frequentava mais o endereço anterior.

Por fim, o ex-policial detalhou que foi motivado pela ambição de ganhar dois terrenos na Zona Oeste do Rio, avaliados em R$ 25 milhões, prometidos pelos irmãos Brazão, que também são réus no processo. Lessa destacou que sua ambição “cega e criminosa” o levou a aceitar o contrato para cometer o assassinato.

No processo, além de Lessa, são réus Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro, seu irmão Chiquinho Brazão, deputado federal, Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil do Rio, e o major da Polícia Militar Ronald Paulo de Alves Pereira. Todos respondem por crimes de homicídio e organização criminosa.

O julgamento, conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, ainda prevê a oitiva de cerca de 70 testemunhas antes da realização dos depoimentos dos réus, que ocorrerão ao final do processo.