Mafalda, a eterna rebelde dos quadrinhos, completa 60 anos como símbolo de crítica social

A personagem de Quino, criada nos anos 60, mantém sua relevância ao questionar governos e injustiças sociais, inspirando gerações de artistas e educadores na América Latina.

Da Redação
30/09/24 • 14h20

Mafalda, de Quino, completa 60 anos e ainda inspira artistas e ativistas. (Foto: Reprodução)

Mafalda, a personagem mais rebelde dos quadrinhos latino-americanos, chega aos 60 anos mantendo seu papel provocativo e crítico. Criada pelo cartunista argentino Quino, falecido em 2020, Mafalda transcendeu seu “criador” e se tornou uma voz emblemática em protestos e debates sobre injustiças, principalmente na Argentina. A veia ácida e crítica da personagem continua a ecoar, alimentando discussões em escolas, arte e política, além de marcar presença em camisetas e bandeiras de manifestações.

Desde a posse do presidente Javier Milei, a Argentina tem enfrentado um cenário de crise, com protestos crescentes, pobreza em alta e restrições à liberdade de expressão. A comunicação pública, antes estruturada, foi praticamente desmontada. Para o chargista brasileiro Carlos Lattuf, “Mafalda deveria voltar com força total”, especialmente em tempos tão turbulentos como os que o país atravessa sob o governo de Milei. Lattuf acredita que a voz crítica da personagem seria essencial para expor as contradições do atual cenário político argentino.

A influência de Mafalda não se limita à Argentina. A artista plástica argentina Jorgela Argañaras, que cresceu lendo as tirinhas de Mafalda, recorda como o inconformismo da personagem com o mundo adulto a ajudou a moldar sua visão crítica durante a pré-adolescência. “Mafalda ficaria horrorizada com o atual governo argentino. Ela estaria nas ruas, levantando bandeiras e defendendo a liberdade”, imagina Jorgela.

Agustín Lecchi, secretário-geral do Sindicato de Imprensa de Buenos Aires, destaca que a situação atual da liberdade de expressão e do jornalismo no país é uma das piores da história recente. “Os ataques aos meios de comunicação, jornalistas e o desmantelamento de veículos comunitários são provas claras do retrocesso”, afirma. Para Lecchi, o presidente Milei não hesitaria em atacar Mafalda e seu criador Quino, assim como tem atacado a expressão popular e artística no país.

No Brasil, a personagem de Quino também inspira artistas e educadoras. A quadrinista May Solimar utiliza a simplicidade e profundidade da linguagem de Mafalda para abordar temas complexos, como machismo e racismo. “Mafalda é um símbolo de ativismo. Ela conecta pessoas com causas importantes, sempre de uma forma acessível e direta”, destaca May, que vê na personagem uma influência marcante em suas criações.

A professora e agente de turismo Taina Gonçalves, que vive em Buenos Aires e trabalha com estudantes brasileiros, também considera Mafalda uma aliada em suas aulas. Para além do ensino do idioma, Taina utiliza as tirinhas para inspirar seus alunos a questionar o mundo ao seu redor. “Mafalda nunca envelhece. Ela nos lembra da importância de continuar defendendo o direito de expressar nossas opiniões e buscar um mundo mais justo”, conclui Taina.

Em meio a crises e desafios, Mafalda segue sendo uma voz de resistência, ajudando as novas gerações a manterem viva a capacidade de se indignar.