Olá, vamos conversar sobre a pessoa com deficiência?

Capacitismo é o nome dado ao preconceito contra as pessoas com deficiência, uma chaga que atrasa e impede o desenvolvimento e a construção de uma sociedade justa e igualitária para todos.
Todos os prédios públicos e privados são obrigados por Lei a construir rampas para o acesso de cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida (Foto: site Deficiente Ciente)

Fala, pessoal. Como vocês estão? Eu sei que vocês viram meu nome aqui do lado, minha fotografia e o nome do meu blog, Sem Barreiras, mas me permitam fazer uma apresentação um pouco mais profunda de mim mesmo e deste espaço. Sou Victor Vasconcelos, tenho 47 anos, sou nascido e criado em Fortaleza, Ceará, e sou jornalista profissional desde o ano 2000. Eu sou uma pessoa com deficiência. Mais especificamente, eu tenho uma doença rara chamada Osteogênese Imperfeita. O nome é esquisito, mas é bem simples de entender. Ela é fruto de uma má formação nos ossos, no colágeno, o tecido formador do osso. Ela é congênita, isto é, eu nasci com ela e não tem cura. Em virtude da causa da doença ser na má formação do colágeno, o osso é extremamente frágil e quebradiço. Assim, popularmente, ela é conhecida como Doença dos Ossos de Vidro ou dos Ossos de Cristal. Pessoas como eu têm uma frequência de fraturas muito maior do que as demais, como vocês. Para se ter uma ideia, até os 18 anos, meus pais contabilizaram mais de cem fraturas, entre coxa, braço e clavícula.

Pois bem, este espaço aqui no iBandCE será utilizado para apresentar a vocês informações e curiosidades das pessoas com deficiência, síndromes, histórias de superação e oferecer dicas para se combater o capacitismo. A propósito, vocês sabem o que é capacitismo? É o nome dado ao preconceito contra pessoas com deficiência, na mesma linha do racismo, da homofobia, misoginia e assim por diante. Capacitismo é uma chaga, acreditem, e atrasa demais a vida de milhares de pessoas no país. Explorarei mais este tema em textos futuros. Apenas imaginem a pessoa ter seus direitos de cidadania, emprego, namoro, estudo ou, simplesmente, o direito de ir à praia ou ao estádio de futebol porque alguém não acredita que ela tenha este direito e não cria as condições necessárias para que possamos frequentar esses lugares. Imaginem você estar em um restaurante e não poder ir ao banheiro porque o dono do estabelecimento se recusou, o termo é esse, a construir portas largas, colocar piso antiderrapante, barras de segurança nas paredes. Imaginem ainda, e encerro essa abordagem por agora, que você compete por um emprego e perde a vaga porque você é cego, surdo ou usuário de cadeira de rodas. Isso é capacitismo!

Ao longo da minha vida, eu convivi com várias formas de capacitismo. Convivi com as consequências da minha deficiência também. Não pude dirigir, jogar futebol, viajar, andar. Ouvi comentários desagradáveis, “que bonitinho, ele fala” ou “quantos anos ele tem?”. Minha história não difere muito das demais pessoas com deficiência. Então, pensando em dar minha contribuição para tornar a sociedade um lugar mais justo e igualitário, criei o blog Sem Barreiras (www.sembarreiras.com.br), em setembro de 2011. O blog começou despretensiosamente. Era um espaço para eu produzir textos noticiosos e opinativos sobre a pessoa com deficiência e a falta de acessibilidade da cidade. Mas, ele cresceu. O tema tem uma demanda enorme. Somente no Estado do Ceará, são cerca de dois milhões de pessoas com deficiência. O blog foi para as redes sociais e chegou na sociedade, na vida real. Em 2016, realizei o Fórum Sem Barreiras de Acessibilidade e Cidadania, na Assembleia Legislativa do Estado do Ceará. No ano seguinte, a segunda edição foi para o auditório do Sebrae. Foram dois momentos bastante interessantes e ricos, em que discutimos cidadania, direitos e educação inclusiva.

Treze anos depois, cheguei aqui no iBandCE. Agradeço à direção da casa por este espaço e convido vocês a caminhar conosco. Ainda é uma caminhada árdua e longa. Existem muitas coisas a serem feitas, muitas barreiras a serem transpostas. A sociedade brasileira foi formada sob um alicerce muito fluido em termos de direitos sociais e isonomias. O conceito de cidadania ainda é estranho para muitos. O regime capitalista impõe a nós uma mentalidade de individualismo. É como diz o ditado popular: “farinha pouca, meu pirão primeiro”. Não é exatamente culpa de ninguém, mas de um sistema, de uma cultura deficiente de séculos. Nos 524 anos de vida do Brasil “colonizado”, fomos vítimas de invasões estrangeiras, roubo de nossas riquezas naturais, destruição de fauna, flora e da cultura indígena, mais de 300 anos de escravidão, duas ditaduras no último século. Como se pode esperar uma sociedade senhora de seus direitos e conhecedora dos direitos alheios neste contexto nefasto? Esta é nossa batalha diária, batalha que será travada agora aqui neste espaço. Trarei dois textos semanais com propostas de reflexão e debates. Conto com sua participação. Acessem Sem Barreiras, conheçam nosso trabalho e vamos conosco por uma sociedade #semcapacitismo.

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