O Natal é para todos, independentemente das barreiras sociais

Papai Noel falando em Libras é uma inovação simples e fácil de ser realizada e provoca um retorno emocional imensurável para milhares de crianças surdas.
José Mário Graciano conversa com Ana Beatriz Aguiar, 8 anos, deficiente auditiva (Foto: jornal Folha de São Paulo)

O Natal está se aproximando e, com ele, a velha tradição de levar os filhos aos shoppings para tirar uma fotografia com o Papai Noel e entregar a cartinha com seu pedido de presente para o Bom Velhinho. Embora o Papai Noel represente, para muitos, o de pior existe em termos de consumismo e um total desvirtuamento do espírito natalino, ele permanece um símbolo da inocência infantil. Por isso, é tão amado e aguardado pelos pequenos e as pequenas.

E as crianças com deficiência? Naturalmente, elas compartilham dessa adoração e vivenciam, cada uma a seu modo, da chamada magia do Natal. Também querem bater a fotografia e fazer seus pedidos. A barreira da língua e da comunicação se torna um problema. Existe um vídeo circulando nas redes sociais em que uma mãe leva sua filha para o Papai Noel, ele fala com ela e a mãe diz que ela é surda. Ele não precisa conversar com ela. Então, o Bom Velhinho a surpreende e começa a falar em Libras com a pequena. Os dois cantam Jingle Bell, juntos.

Em dezembro de 2023, o blog Sem Barreiras (www.sembarreiras.com.br) publicou a matéria Papai Noel em Libras encanta crianças e famílias. O fato ocorreu no Águas Claras Shopping, coração do Distrito Federal. “Papai Noel, o símbolo icônico da temporada festiva, está surpreendendo as crianças ao se comunicar em Língua Brasileira de Sinais (Libras). Esse é apenas um exemplo de muitos outros espalhados pelo Brasil todo, uma iniciativa inovadora e extremamente bem-vinda, que está promovendo inclusão, respeito e igualdade, proporcionando uma experiência única para as famílias que buscam um Natal mais acolhedor”.

A cena é comovente ao mostrar crianças e pais surpresos e felizes ao se depararem com um Papai Noel que fala a linguagem dos surdos, tão raro nos demais espaços de convívio social e tão natural para as relações que elas vivem nos seus cotidianos. Os olhares curiosos se transformam em sorrisos radiantes quando o Bom Velhinho utiliza gestos e sinais para interagir. A emoção não se limita aos pequenos. Os pais, muitas vezes, deixam escapar lágrimas dos olhos ao presenciar a inclusão tão sonhada e sempre tão negada aos seus filhos.

José Mário Graciano, mecânico de manutenção aposentado, atua como o Bom Velhinho em São José dos Campos (SP), há 13 anos, e decidiu aprender a Língua dos Sinais para melhor atender a sua clientela: as crianças surdas. Tudo começou em 2014. “Chegaram para falar comigo duas gêmeas. Elas sorriram e eu sorri de volta. Aí o pai fez um gesto explicando que eram surdas. Fiz um movimento com o braço cruzando no peito, que significa abraço, mas foi no instinto, nem sabia que isso significava alguma coisa na Língua de Sinais. No ano seguinte, fui fazer um curso de Libras”, contou o Papai Noel.

Carla Momberg, mãe de uma das crianças que vivenciou esse momento único, é também intérprete de Libras. Ela compartilha a emoção de ver seu filho se comunicar plenamente com o Papai Noel. “É incrível ver a alegria nos olhos do meu filho ao perceber que o Natal é para todos, independentemente das barreiras linguísticas. Esta experiência reforça a importância da inclusão e nos enche de esperança para um futuro mais igualitário”, afirmou.

A palavra “inclusão” ganha vida à medida que as crianças, independentemente de suas habilidades auditivas, têm a oportunidade de compartilhar seus desejos e sonhos diretamente com o Papai Noel. Essa abordagem inclusiva não apenas fortalece os laços familiares, mas também destaca a importância de respeitar as diferenças, promovendo uma sociedade mais justa e igualitária. A infância é o momento da vida de todos nós para exercermos a fantasia, darmos asas à nossa imaginação e nossos sonhos. Fantasia, imaginação e sonho têm tudo a ver com Papai Noel, um personagem mítico e irreal, mas que representa muito para milhares de pessoas, crianças principalmente.

Ao adotar práticas inclusivas, não apenas se proporcionam momentos mágicos para as crianças, mas também um chamado à reflexão sobre a importância de construir uma sociedade onde a diversidade seja celebrada em todas as ocasiões, especialmente nesta época festiva. O Natal, afinal, é a época de espalhar não apenas presentes, mas também alegria, respeito e igualdade. Os exemplos relatados neste texto servem para mostrar como é simples praticar a inclusão. Essas não crianças não deixaram de ser deficientes, mas, certamente, elas puderam ser crianças por alguns minutos e isso é fundamental para o seu desenvolvimento.

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