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Com peso, textura e feições que imitam um recém-nascido, os chamados bebês reborn vêm conquistando um público crescente no Brasil. Esses bonecos hiper-realistas, fabricados artesanalmente para parecerem o mais próximo possível de um bebê humano, têm sido adotados por mulheres adultas em diferentes contextos emocionais — o que vem despertando tanto fascínio quanto polêmica.
Para a psicóloga Valéria Figueiredo, professora do curso de Psicologia da Estácio, a popularidade dos bebês reborn está inserida em um contexto maior de busca pelo hiper-real. “Na era do imaginário, onde a imagem ganha o centro do capitalismo, precisamos nos perguntar: o que é real?”, questiona. Segundo ela, vivemos um cenário de “inflação semiótica”, no qual os símbolos se distanciam de seus significados concretos.
É nesse ambiente simbólico que os bebês reborn encontram espaço. “O real perde espaço para o hiper-real”, afirma Valéria, sugerindo que os bonecos funcionam como representações simbólicas de necessidades afetivas que vão além do brincar.
Em muitos casos, o vínculo com o boneco está ligado ao instinto de cuidado. Para mulheres que não puderam ter filhos, passaram por perdas gestacionais ou vivem a chamada síndrome do ninho vazio, o bebê reborn pode representar uma forma simbólica de maternar. A simulação de gestos cotidianos como dar colo, vestir ou alimentar o boneco pode oferecer conforto emocional.
O uso dos reborns também tem relação com o luto. A semelhança com um bebê real pode funcionar como objeto de transição, canalizando o afeto e a saudade de forma externa. No entanto, a psicóloga alerta: o acompanhamento profissional é essencial, para que o boneco não se torne uma fuga emocional que dificulte a elaboração da perda.
A solidão aparece como outro fator relevante. Em tempos de conexões frágeis, o bebê reborn pode oferecer companhia e facilitar interações em comunidades online, criando uma rotina simbólica de afeto. Valéria observa ainda que o boneco pode representar uma forma de controle emocional: “É algo que posso controlar, diferente da imprevisibilidade das relações reais.”
A teoria do apego também ajuda a explicar o fenômeno. Pessoas com histórico de traumas ou apego inseguro podem encontrar no boneco uma fonte de contato afetivo previsível e sem riscos.
Contudo, quando o vínculo com o boneco substitui interações humanas significativas, a situação pode indicar sofrimento psíquico. “É necessário olhar com empatia, mas também com responsabilidade clínica”, finaliza Valéria.