Tudo o que acreditamos — absolutamente tudo — nos foi, em algum momento, dito por alguém que, por sua vez, ouviu de alguém, que também ouviu de alguém. Assim, formamos nossas opiniões, construímos visões de mundo, e edificamos crenças sobre a realidade que nos cerca. Vivemos como ecos de ideias herdadas, reproduzindo padrões que nem sequer fomos nós que elaboramos.
Copiamos o modelo dos nossos ancestrais com naturalidade quase inconsciente. E, a partir dessa base, decidimos. Escolhemos o que amar, o que temer, o que considerar certo ou errado — e o fazemos sem perceber que, muitas vezes, não escolhemos de fato: apenas seguimos o que nos foi entregue como verdade.
Contudo, há um ponto essencial que muitos negligenciam: o hábito de questionar. Vivemos em uma era de opiniões copiadas e pensamentos terceirizados. Investigar é raro. A maioria apenas repete ideias herdadas, narrativas prontas, sem análise, sem confronto. E quando uma sociedade inteira deixa de pensar por si, o preço é alto: perdemos a escuta, adoecemos no fanatismo e mergulhamos em uma alienação que se mascara de convicção.
A preguiça intelectual é uma das faces mais silenciosas da alienação. Copiar e colar ideias alheias sem averiguar sua legitimidade, sem confrontar com outras perspectivas, é aceitar viver com a visão estreitada, limitada por conveniências cognitivas. É mais confortável viver com ideias herdadas do que enfrentar a possibilidade de estar errado.
E é nesse terreno estéril que florescem os grandes inimigos do pensamento livre: o fanatismo e o dogma. Ambos se alimentam da certeza absoluta, da convicção inflexível, da recusa em considerar que a verdade pode ter muitas faces. Quem acredita que só existe uma verdade — e que esta, por coincidência, é a sua — está a um passo de fechar todas as janelas da mente e trancar, por dentro, as portas da alma.
O despertar exige coragem. Exige humildade para reconhecer que podemos estar errados, e grandeza para abrir espaço ao novo. O mundo é gigante. A verdade, multifacetada. E o pensamento, quando livre, é a mais poderosa ferramenta de libertação.