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Ceará tem alto índice de letalidade policial entre jovens negros

Boletim revela que 88,7% das mortes por intervenção policial no Estado foram de pessoas negras; jovens de 18 a 29 anos são as principais vítimas.
O estudo destaca que a juventude cearense é a parcela da população mais vitimada pela polícia. (Foto: Agência Brasil)

Um estudo divulgado pela Rede de Observatórios da Segurança nesta quinta-feira (7) revelou dados alarmantes sobre a violência policial no Ceará e a desproporcionalidade racial entre as vítimas. Segundo o boletim “Pele alvo: Mortes que revelam um padrão”, 88,7% das pessoas mortas por intervenção policial no Estado eram negras. Este levantamento, que está na sua quinta edição, reflete o cenário de nove estados brasileiros e aponta um padrão de letalidade com impacto desproporcional sobre a população negra.

Entre os 147 casos registrados no Ceará, os dados indicam que a juventude é a mais afetada. No Estado, 69,4% das vítimas pela intervenção policial estavam na faixa etária de 18 a 29 anos, e o crescimento de mortes entre pessoas negras aumentou em 27% em relação ao ano anterior, apesar de uma leve queda de 3,3% no número total de óbitos.

A cientista social e coordenadora da Rede de Observatórios da Segurança, Silvia Ramos, afirmou que esses números evidenciam um problema estrutural de racismo no País, impactando profundamente a segurança pública. “O perfil do suspeito policial é fortalecido nas corporações. O policial aprende que deve tratar diferente um jovem branco vestido de terno na cidade e um jovem negro de bermuda e chinelo em uma favela”, ressaltou a pesquisadora.

Transparência
Embora o Ceará apresente melhora na transparência, o estudo aponta que 63,9% dos registros de letalidade policial ainda não contêm informações sobre a raça e cor das vítimas, o que limita a análise completa do perfil das mortes no Estado. De acordo com a Rede, essa falta de dados impede uma avaliação precisa e qualificada, sendo essencial para a formulação de políticas públicas mais eficazes.

A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS) reafirmou seu compromisso em reduzir os estigmas e a vulnerabilidade da população negra no Estado. A SSPDS informou que mantém diálogo com a Secretaria de Igualdade Racial (Seir) e que está desenvolvendo uma nova tecnologia para cruzamento de dados estratégicos sobre inquéritos e o perfil das vítimas de crimes.

A pasta garantiu ainda que os profissionais de segurança participam de formações iniciais e contínuas voltadas para o atendimento humanizado a pessoas negras e grupos vulneráveis. Segundo a SSPDS, todas as mortes decorrentes de intervenção policial são tratadas com seriedade e transparência.

Cenário nacional
O boletim destaca que a Bahia é a unidade da Federação com a polícia mais letal, com 1.702 mortes. Esse foi o segundo maior número já registrado desde 2019 dentre todos os estados monitorados. Na sequência, vem Rio de Janeiro (871), Pará (530), São Paulo (510), Ceará (147), Pernambuco (117), Maranhão (62), Amazonas (59) e Piauí (27).

O estudo da Rede de Observatórios da Segurança expõe que o padrão é de uma proporção muito alta de pessoas negras mortas por intervenção do Estado: Amazonas (92,6%), Bahia (94,6%), Ceará (88,7%), Maranhão (80%), Pará (91,7%), Pernambuco (95,7%), Piauí (74,1%), Rio de Janeiro (86,9%) e São Paulo (66,3%).

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