O Ceará tem dado passos importantes rumo ao aprimoramento genético da pecuária leiteira. Em apenas 11 meses de execução, o Projeto FIV Ceará, realizado pelo Sistema FAEC/Senar/Sindicatos Rurais, já contabiliza 756 prenhezes confirmadasem todo o estado, utilizando a técnica de fertilização in vitro (FIV) em bovinos.
A iniciativa tem como objetivo aumentar a eficiência dos rebanhos e, consequentemente, a produtividade do leite no estado. Em Morada Nova, no Vale do Jaguaribe, oito produtores foram contemplados diretamente, com 41 prenhezes confirmadas até agora. Ao todo, mais de 2.000 animais já foram protocolados para receber a tecnologia, com um índice de sucesso de 42% — considerado positivo para esse tipo de procedimento.
A fertilização in vitro é uma técnica de reprodução assistida que permite acelerar o ganho genético dos rebanhos. O processo começa com a coleta de óvulos de vacas doadoras de alta qualidade genética, que são fertilizados em laboratório com sêmen de touros melhoradores. Os embriões formados são transferidos para vacas receptoras, que passam a gestar descendentes de linhagens superiores.
Na prática, isso significa que uma vaca de alto valor pode gerar dezenas de descendentes em pouco tempo, reduzindo pela metade o tempo necessário para formar rebanhos produtivos e mais adaptados às condições de clima e mercado.
O projeto tem como foco a raça Girolando, responsável por mais de 80% do leite produzido no Brasil, de acordo com a Associação Brasileira dos Criadores. Fruto do cruzamento entre o gado Gir, rústico e adaptado ao calor, e o Holandês, campeão mundial em produção de leite, o Girolando reúne produtividade e resistência, características ideais para o semiárido cearense.
Morada Nova é considerada a segunda maior produtora de leite do Nordeste e vê no projeto uma oportunidade de consolidar ainda mais sua vocação. Para o pecuarista Raimundo José Bezerra, que atua no setor desde 1988, a tecnologia trouxe novas perspectivas. “A gente ganha confiança para investir, porque sabe que está produzindo com qualidade e segurança”, afirmou.
O presidente do Sindicato Rural de Morada Nova, Eduardo Júnior, destacou a importância do projeto para a economia local: “Esse trabalho mostra que a pecuária leiteira do Vale do Jaguaribe tem condições de competir em nível nacional, com genética e produção de alto padrão”.
Apesar dos avanços tecnológicos, os produtores enfrentam um problema grave: a redução no preço do leite pago pela maior indústria compradora do estado. A decisão gerou forte reação do presidente da FAEC, Amílcar Silveira, que classificou a prática como exploratória e injusta.
“A Alvoar tem um tratamento inadequado para produtor rural. Não é esse tipo de tratamento que uma empresa séria deveria fazer para os seus produtores rurais. Nos deixa perplexos porque nos supermercados os preços não diminuíram. Quem está pagando a ineficiência da Alvoar no seu parque fabril é o produtor de leite”, criticou Amílcar.
Em nota, a Alvoar retrucou, “A situação atual de mercado é muito ruim para toda a cadeia do leite, não apenas para o produtor, mas também para a indústria. Estamos enfrentando juntos essa realidade, no país inteiro, resultado da queda no consumo e do aumento da oferta em todo o Brasil, não apenas no Ceará. Segundo o IBGE, a produção de leite no 2º trimestre de bateu um recorde, crescendo 6,4% comparado com o ano anterior. Por outro lado, o consumo de leite longa vida caiu 3,7% no mesmo período. Sobre o preço de venda aos consumidores, vale lembrar que a Alvoar não decide o preço final do leite no supermercado”.
O tema também foi reforçado por sindicatos rurais da região, que pedem valorização para a cadeia produtiva.
O Projeto FIV Ceará mostra que a inovação tecnológica pode transformar a produção de leite no estado. Mas o futuro do setor depende também de condições de mercado que garantam renda justa ao produtor.
Uma reportagem completa sobre o tema será exibida no Agro na Band, neste sábado, às 8h30, na tela da TV Band Ceará.